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Por Lukas Kina

O temor primário em cima do short-term rental pode dar lugar ao espelhamento e aprendizado. A tendência, importada de mercados mais consolidados como Estados Unidos e Europa, planta aos poucos a semente da flexibilidade e tecnologia na hotelaria brasileira. Com o entendimento disso, grandes companhias do setor criam produtos voltados ao modelo de aluguel para curta temporada e apostam, principalmente, na satisfação dos elementos principais da equação: clientes e investidores.

Nos EUA, por exemplo, o mercado de aluguel de temporada superou as performances do setor hoteleiro tradicional em outubro de 2020, segundo a SRT. Em outros relatórios, como da AirDNA, foi visto que a demanda atual do short-term rental supera dados de 2019. O que mais, então, é preciso para mostrar o quão grande pode ser este segmento? Está colocado à mesa: a hotelaria não deve lutar contra o progresso, mas seguir e adaptar-se a ele.

É o que acredita Roland Bonadona, consultor hoteleiro e voz ativa no Brasil quando o assunto é a indústria de hospitalidade. Para ele, o diferencial do short-term rental está em seu DNA, criado a partir da convergência entre residencial e hotelaria. “Mesmo sendo pré-pandemia, foi um modal que caiu bem na atual conjuntura, tendo em vista a flexibilidade que proporciona. Esse é um dos fatores principais para o crescimento e a crise apenas acelerou o processo”, avalia.

Na visão de Bonadona, um dos legados que o segmento deixará ao Brasil é, portanto, a capacidade de adaptação. Ao colocar isso na prática, ele cita alguns caminhos que podem ser melhores explorados por redes hoteleiras. “Essas empresas podem olhar essa tendência e, para se destacar, aliar o aluguel para curta temporada às exclusividades da hotelaria, como ter bar e restaurante na unidade, por exemplo. É preciso pensar fora da caixa”, indica.

Grande parte do interesse neste mercado está relacionado à alta demanda. O norte das redes hoteleiras, neste caso, deve estar relacionado ao lado do hóspede. Quanto ao investidor, Bonadona fala que existem muitas vantagens e, para ambos os lados, acompanha os pedidos da indústria.

“Nenhum investidor vai colocar dinheiro em um mercado pouco atualizado. Sendo assim, entrar no short-term rental faz sentido às companhias hoteleiras, tendo em vista que é um setor com menos custos e que pode render mais no futuro”, comenta.

Atrio, XTay e o short-term rental

Para exemplificar com cases nacionais de operadoras que apostam no segmento, pode-se citar Atrio Management, que se associou a outras empresas para criar a Xtay. Em entrevista à reportagem do Hotelier News, Beto Caputo, diretor executivo da Atrio, afirmou que vê a ascensão do modelo como o sinal do desenvolvimento da indústria hoteleira mundial.

“A popularização do aluguel de casas foi importante para chegarmos até aqui. Alguns anos depois, o setor hoteleiro entendeu a importância deste mercado e, mais ainda, atrelou as facilidades dele ao investimento em tecnologia e experiência do nosso nicho. A Xtay é a junção da flexibilidade do aluguel com os serviços de hotel”, pontua.

Além da praticidade deste tipo de aluguel ao cliente, Caputo retoma as conversas sobre a esfera do investidor. “Não é questão de ser melhor, mas é um sistema funcional e que traz menos custo e mais rotatividade ao ativo, no caso, o quarto de quem investiu. O fato dos serviços serem on demand, ou seja, relativo aos desejos do cliente, torna o short-term rental uma ferramenta mais simples de manejar”, fala o executivo.

Concorrência e competição

Com tantas empresas olhando para o segmento e o velho e conhecido efeito manada, já se pode pensar em sobreoferta? Para Bonadona, a resposta é sim, mas ele entende ser um processo normal. “Sempre que algum produto ganha visibilidade, o normal é que o número de players aumente no início. É claro, todos querem uma fatia desse bolo. O que não muda, porém, é que o tempo dilui essa participação cada vez mais e, naturalmente, as empresas maiores incorporam as menores”, explica. Para o consultor, o segmento de aluguel de curta-temporada deve tomar forma no país em três anos.

Para Caputo, tecnologia e experiência são atributos essenciais

Por outro lado, a respeito da competição com a hotelaria tradicional, o ex-presidente da Accor fala de uma demanda bem dividida para o futuro. Agora o aluguel está em destaque, mas tudo depende mesmo é da vontade do consumidor. “No final das contas, comprar em um não elimina o outro. Tudo depende do momento e dos serviços oferecidos. O importante aqui é estar sempre pronto e adaptado”, ressalta.

Já Caputo, sobre a “corrida” entre empresas, cita que há espaço para todos, mas também crê na importância da expertise hoteleira. “No momento da decisão sobre qual meio de hospedagem escolher, imagino uma vantagem aos que já possuem o pensamento da hotelaria. Como disse, é a união entre a hospitalidade profissional sem remover a flexibilidade, principal aspecto do short-term rental“, pondera o diretor.

Segmentos prejudicados?

Quando questionado sobre qual tipo da hotelaria tradicional pode sair mais impactada com o crescimento do aluguel unido à hotelaria, Bonadona não “lacrou”, como gosta de falar os mais jovens. Contudo, admite que se adaptar pode ser mais difícil em alguns casos.

“Nesse quesito, vejo que o segmento econômico, mais voltado à estadas curtas com serviços baratos, deve ser o que mais sofrerá. Será preciso pegar a proposta desse empreendimento e garantir que o preço continue baixo, mas com apartamentos mais espaçosos e com a feição do aluguel de curta temporada. É difícil alguém querer ficar mais de uma semana em um apartamento econômico nos moldes atuais. O caminho, então, está no espírito lifestyle e atentos às demandas digitais e tecnológicas do consumidor”, diz Bonadona.

Housi

Para colocar um ponto final neste capítulo, existe um ponto que mostra a tão entoada flexibilidade da indústria atual. Temos o lado daqueles que criam produtos voltados ao aluguel, como Atrio Management, Atlantica Hotels e ICH Administração de Hotéis, mas vemos também a adesão de empreendimentos e operadoras brasileiras à plataformas como Housi.

Conhecida como “Netflix da moradia”, a plataforma de moradia por assinatura é a prova da adaptação de uma série de unidades hoteleiras às tendências. Entre elas, podemos citas Nobile Hotéis, Hotelaria Brasil e Transamérica Comandatuba como algumas das adesões ao portfólio da empresa que dá os primeiros passos no Brasil.

Como dito por players do setor, é diferente de uma competição sobre quem terá mais hóspedes. O short-term rental, ainda no movimento de expansão de oferta, é apenas um dos caminhos que surgiram para “desovar” inventários impactados pela pandemia. Além disso, pode significar a salvação aos atentos por inovação.


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